Descrição de chapéu mercado de trabalho

País cria recorde de 395 mil vagas formais em outubro, mas saldo no ano ainda é negativo

Resultado positivo é o quarto consecutivo após perda de 1,6 milhão de postos durante a pandemia

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Brasília

O mercado de trabalho brasileiro registrou abertura líquida (contratações menos desligamentos) de 395 mil vagas em outubro, o quarto saldo consecutivo no azul após as perdas registradas durante a pandemia do coronavírus e um recorde na série histórica iniciada em 1992.

Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado nesta quinta-feira (26) pelo Ministério da Economia e que abrange apenas contratos regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). De acordo com a pasta, o saldo é resultado de 1,5 milhão de admissões e 1,1 milhão de desligamentos.

Os números de outubro ainda não têm ajuste de declarações feitas fora do prazo, o que, combinado com um maior atraso observado nas informações prestadas por empresas neste ano e uma mudança na metodologia em 2020, deve levar a alterações a serem observadas nas próximas divulgações.

Os dados do governo mostram que o país vem abrindo vagas em número cada vez maior após o corte aproximado de 1,6 milhão de postos de março a junho. Em julho, foram 139 mil postos abertos. Em agosto, 244 mil. Em setembro, 313 mil.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou o resultado. "Tivemos uma notícia extraordinariamente favorável hoje. Foi o mês em que criamos mais empregos na série histórica do Caged. A economia brasileira continua retomando em V, gerando empregos em ritmo acelerado", afirmou.

Guedes havia afirmado durante o mês que o país poderia encerrar 2020 com cerca de 300 mil empregos perdidos, mas agora diz que o saldo pode ficar zerado. "Podemos terminar o ano perdendo zero vagas em emprego formal. Quando em 2015 perdemos mais de um milhão de empregos, e em 2016 também, em recessões autoimpostas", afirmou.

Mesmo assim, ele prevê números mais moderados no futuro. "Está tão bom que é difícil melhorar", afirmou. Nos últimos dias, ele já havia dito que os números devem desacelerar.

Bruno Bianco, secretário especial de Previdência e Trabalho, lembrou que o fim do ano tem historicamente demissões, mas que há chances de o país terminar o ano com saldo neutro entre contratações e desligamentos, cenário influenciado pelo programa que permite corte de jornada e salário ou suspensão de contratos.

"A economia está em franca retomada, com os empregos voltando em V. O mês de dezembro é historicamente negativo, mas temos a influência positiva do benefício emergencial. Temos grandes chances de ter um número neutro até o fim do ano", afirmou Bianco.

No mês, o melhor desempenho foi de serviços (com 156 mil vagas abertas), seguido por comércio (115 mil), indústria (86 mil) e construção (32 mil). Por outro lado, a agricultura fechou vagas (menos 120 postos).

Rodolpho Tobler, economista do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), diz que os números mostram uma recuperação, embora em ritmo desigual. "Setores como comércio e serviços seguem avançando, mas ainda têm um caminho de recuperação muito maior do que os outros. O fundo do poço foi maior e a retomada mais lenta", afirma.

"Por outro lado, indústria se aproxima do nível de fevereiro, e construção e agropecuária já estão acima", complementa Tobler.

A região que mais criou postos de trabalho foi o Sudeste (com 186 mil vagas), seguida pelo Sul (93 mil), Nordeste (69 mil), Centro-Oeste (25 mil) e Norte (20 mil).

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que a recuperação em todas as regiões aponta para uma melhora na atividade no país. "Esse dado atribui boa perspectiva para a economia brasileira, que evidentemente ainda está sujeita a uma eventual segunda onda que a desacelere. Mas os sinais são ótimos", afirma.

No acumulado do ano de 2020, ainda há um saldo negativo de 171,1 mil empregos (dados com ajuste até setembro), decorrente de 12,2 milhões de admissões e de 12,4 milhões de desligamentos.

Mudança metodológica

O Ministério da Economia mudou a metodologia do Caged em 2020. Neste ano, as empresas passaram a usar o sistema do eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas). A adaptação fez empresas comunicarem mais dados fora do prazo, o que a pasta compensa usando números de outras fontes.

"A gente vê uma mudança de comportamento das empresas nesse período pela transição dos sistemas, que resulta em empresas comunicando fora do prazo com mais frequência", afirma Mariana Eugênio, coordenadora-geral na Secretaria de Trabalho.

Por isso, os técnicos procuram ajustar dados de desligamentos não declarados pelas empresas a partir da imputação de dados como os pedidos de seguro-desemprego.

"Tem um momento pré-pandemia onde a gente já observava, na transição para o novo Caged, que havia atraso na comunicação. Isso foi resolvido a partir de dados do seguro-desemprego e, pós-pandemia, o Caged segue aberto para receber essa informação", afirma Luís Felipe Batista de Oliveira, assessor da Secretaria de Trabalho.

A diferença entre os dados sem ajuste (ou seja, somente os comunicados dentro do prazo) e os com ajuste (ou seja, incorporando também os captados fora do prazo) mostram uma diferença de 105 mil postos de trabalho no acumulado do ano.

Sem ajuste, houve uma perda de 66 mil postos de trabalho de janeiro a outubro; com ajuste, de 171 mil vagas. Para os técnicos, no entanto, as mudanças a cada mês são pequenas e não mudam a análise dos números.

Bruno Dalcolmo, secretário de Trabalho, afirma que agora, passado o período de adaptação ao sistema e o momento mais crítico da pandemia, as correções tendem a ser mais brandas. "Há um volume de correção, mas não tão discrepante", disse.

À tarde, durante cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comemorou o resultado do Caged, disse tratar-se de uma “excelente notícia” e superdimensionou os dados.
“Tivemos mais empregos do que desemprego (desde julho) e agora, levando-se em conta outubro, o antepenúltimo mês para findar o ano, o Caged nos deu um superávit de 450 mil novos empregos de carteira assinada”, disse. Em outubro, na verdade, o saldo foi positivo em 395 mil empregos​

“Se nós acreditarmos em projeções, vamos terminar o ano, mês de dezembro, com mais gente empregada do que em dezembro do ano passado, isso atravessando uma pandemia”, afirmou.

O presidente ainda afirmou que o Posto Ipiranga é “insubstituível”.

O mandatário participou nesta quinta-feira (26) do lançamento das primeiras fases dos projetos Codex e Super BR. O primeiro é uma plataforma criada em junho que disponibiliza todas as normais legais e infralegais atualizadas. O segundo, Super BR (Sistema Único de Processo Eletrônico em Rede), conecta todos os órgãos do governo e cujo piloto começará a rodar em dezembro. Bolsonaro também assinou decreto revogando 304 atos normativos considerados desnecessários.

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