A neurociência e a inteligência emocional

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Por Katia Flocke*

A vida é um processo evolutivo e todos nós estamos nesta jornada, onde o objetivo é atingir o desenvolvimento de nossas capacidades e aptidões inatas. E é através de sucessivas reencarnações que ocorrem o amadurecimento e o crescimento do indivíduo.

Cada um de nós possui uma individualidade e em cada experiência vivencial adquirimos conhecimentos que transformam nosso modo de ver e sentir a vida. Por isso a importância de termos consciência do real sentido de nossas vidas, entender qual a direção que queremos tomar para atingir nossos objetivos. E para isso é preciso fazer mudanças quanto à forma de pensar as leis divinas. 

Sentir a vida produz uma profunda conscientização de religiosidade sobre a nossa realidade, do que somos e gostaríamos de ser!

Somente pela conquista do autoconhecimento é que saberemos como pensamos, sentimos e agimos, e se isso está de acordo com a nossa nova consciência de vida, onde temos como plataforma os ensinamentos pedagógicos de Jesus, esse sol divino que trouxe o verdadeiro tratado de psicoterapia para a cura de todos os males que afligem o homem.

Com seus ensinamentos, Jesus nos trouxe uma proposta de libertação pelo conhecimento da verdade e da vivência do amor, com o objetivo de depurar e desenvolver uma nova consciência de vida. Quando o homem aprender a dominar seus impulsos e racionalizá-los, estará apto a desenvolver o amor e praticá-lo.

A complexidade humana

Aprender a amar é um dos nossos objetivos, pois o amor é uma capacidade a ser desenvolvida, assim como desenvolvemos a inteligência. Amar é uma base para nossa forma de viver. 

A saúde mental é uma parte essencial do complexo mais abrangente que inclui também o bem-estar físico, social, ecológico e espiritual. Saúde significa um estado muito mais amplo, portanto, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Saúde mental e bem-estar são fundamentais para nossa capacidade coletiva e individual, como seres humanos, para pensar, nos emocionar, interagir e viver a vida. 

As rápidas mudanças sociais, condições estressantes de trabalho, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida, risco de violência, problemas físicos e violação dos direitos humanos prejudicam muito a saúde psíquica. 

O homem é um ser muito complexo, um somatório de experiências passadas, registradas em seu arquivo mental, denominado inconsciente.

A neurociência estuda o sistema nervoso, seu funcionamento, sua estrutura, seu desenvolvimento e suas mudanças, tendo como objetivo investigar justamente o comportamento humano para entender como questões físicas interferem nas emoções do indivíduo e como isso funciona. Quer compreender como o cérebro trabalha, para melhor tratar doenças neurológicas e psiquiátricas, que de modo geral estão ligadas diretamente ao seu funcionamento, buscando compreender também como as estruturas da ética, moral, política, economia, ciências, etc. interferem no  cérebro humano.

O cérebro e as emoções

O cérebro é a base do comportamento humano, ‘sede’ dos sentimentos, pensamentos e emoções. Uma de suas regiões, chamada de sistema límbico, recebe informações do meio externo e as transforma em emoções, que por sua vez estão associadas a estímulos externos ou internos (conteúdos mentais, ideias que são capazes de provocá-las). Por exemplo: Se você pensar em alguém que você gosta, provocará um tipo de emoção; se pensar em alguém que não gosta, provocará outra reação emocional.

Tudo que vivemos fica arquivado na memória. Quando lembrada, essa memória traz uma reação emocional, boa ou ruim, além de provocar também reações no corpo físico, como: taquicardia, sudorese, midríase (dilatação da pupila), etc. Todas essas reações preparam o indivíduo fisiologicamente para enfrentar situações de riscos que incomodam. 

Assim, as memórias — positivas e negativas — vão causar reações emocionais, que nem sempre, porém, serão percebidas por quem as esteja sentindo. Por isso, muitas vezes, elas aparecem somente em forma de sintomas: a pessoa fica mais introspectiva, nervosa, agressiva, irritada; enfim, com o seu comportamento alterado. É porque as emoções geralmente permanecem inconscientes.

Os sentimentos, conscientes, irão envolver a memória armazenada, ideias e programações no futuro. E a autopercepção fará com que se tome alguma decisão, que poderá ser boa ou não, uma vez que dependerá do que já estiver armazenado, se positivo ou negativo. 

Conteúdo da memória

Por isso é tão importante o autoconhecimento, para que se possa compreender melhor esses sentimentos e emoções que trazemos guardados e que interferem o tempo todo em nossas ações e comportamentos. Aliás, pode-se dizer que, muito mais do que imaginamos, vivemos regidos pelos conteúdos de nossa memória, gerando reações emocionais de medo, angústia, tristeza, ansiedade, depressão, insegurança e tantas outras.

Somos como uma orquestra, regida por nossos conteúdos de experiências passadas, tendo como instrumentos nossas atitudes, formas de pensar, sentimentos, emoções e tomadas de decisões.

Melhor compreendendo nossos sentimentos e emoções, poderemos melhor gerenciar nossas relações profissionais, afetivas, amizades, estar enfim muito mais aptos a viver a vida de forma construtiva, e não de receios, culpas e medos. Às vezes, nossas emoções, inclusive, atrapalham nosso julgamento, impedindo-nos de agir racionalmente. Elas são ferramentas muito importantes para interagirmos com o meio em que vivemos e podem falhar, levando-nos a tomar atitudes inadequadas.

Identificar os sentimentos

A inteligência emocional permite que se utilizem as emoções positivamente para atingir objetivos, para que se reconheça e se controle sentimentos e não sejamos controlados por eles. E tem também outro ponto interessante: identificar e nomear os sentimentos é muito importante para que consigamos lidar com eles. Afinal, quem não consegue reconhecer seus sentimentos e emoções está mais propenso a surtar, a ser mais agressivo e até violento.

Quando você se reconhece com certas emoções e sentimentos, terá facilidade de controlar e conviver melhor com você e socialmente.

A inteligência emocional promove desta forma bons relacionamentos sociais, porque faz com que se pense antes de agir, colocando-se no lugar da outra pessoa, para saber como você se sentiria numa determinada situação. Auxilia muito a desenvolver a empatia com o próximo.

Autoconsciência e controle

É fundamental desenvolver a consciência das emoções para ter o controle emocional. A autoconsciência exige um neocórtex ativado, pois assim monitora as emoções. O neocórtex é a parte do cérebro que comanda a razão e o discernimento, controlando os instintos e emoções exageradas. 

As emoções exercem poderoso efeito sobre o sistema nervoso autônomo, causando grande impacto sobre o sistema imunológico. 

Vale lembrar que o estresse acaba com nossa resistência imunológica temporariamente, por isso nossas emoções precisam de educação.

Características que favorecem a programação do cérebro

  • Ver os problemas como desafios e não como ameaças e acalmar-se;

  • Cultivar boas amizades;

  • Desenvolver a autoestima,  tratar-se bem, com respeito, reconhecer as próprias qualidades e valorizá-las;

  • Mudar os hábitos que considere negativos;

  • Ver o mundo de forma diferente;

  • Criar hábitos positivos como: 

    Ter gratidão – valorizar a vida

    Orar – entrar em contato com o Divino

    Vigiar os pensamentos, sentimentos, emoções e ações – torná-los conscientes

    Ser alegre e otimista

As lições de Jesus

Jesus nos ensinou a plantar o bem e esperar a colheita sem desespero. Também, que a felicidade é a colheita de um plantio longo e trabalhoso no bem. 

Jesus alterou a estrutura da justiça: de punitiva e destrutiva para educativa e reabilitadora. Trouxe a mensagem básica do Amor, que revolucionou o pensamento vigente: o Amor que transforma os alicerces morais do indivíduo e da sociedade.

As parábolas por ele trazidas foram através de lições do cotidiano da época, para estimular e desenvolver aspectos psicológicos, sociais e ecológicos no indivíduo, estimulando-o o tempo todo à tomada de consciência, para ter atitudes boas e para o bem comum. 

Jesus nos ensinou que a fonte de tudo está em nós. E esse é o grande milagre, tendo como alicerce o autoconhecimento, um tratado para a reabilitação do ser em evolução. Por isso esse é o caminho.

“Conhece-te a ti mesmo” era a inscrição na entrada do Oráculo de Delfos, que Sócrates tão bem abordou. 

Autoconhecimento envolve a autoconsciência e o desenvolvimento da autoimagem, ou seja, ser mestre de si mesmo e consequentemente um ser humano melhor.

Necessitamos com urgência de ensinamentos que tenham como objetivo o controle das emoções e resoluções de conflitos de forma pacífica.

A auto-observação durante situações de conflito é um grande desafio, mas precisamos praticá-la. Um minuto sozinho, com os olhos fechados, ajuda você a observar seus pensamentos, emoções e sensações e a tranquilizar sua mente.

Emoções e reflexões ignoradas, que ficam armazenadas na mente, clamam por atenção e solução, e acabam sendo obstáculos para entendimento de qualquer situação.

Temos o poder de escolher nossas atitudes em relação à vida.

Precisamos aprender a apreciar tudo ao nosso redor, pois os acontecimentos são como símbolos; precisamos interpretá-los, para deles colher o melhor ensinamento.

Temos muito para aprender sobre nós mesmos. Mudamos a cada segundo, muitas vezes sem perceber. Somos seres humanos evolutivos e necessitamos aprender a ser nós mesmos, aceitando-nos, respeitando-nos, para sabermos o que então mudar e transformar. Tudo a seu tempo, nada de pressa, nem correria, pois a calma é e sempre será nossa maior companheira de jornada, para que nenhuma boa observação de nossa vida seja perdida.

Diga sim para você, seja respeitoso com você, com os outros e com a vida. Ela é um grande presente, que precisa ser aberto a cada dia com entusiasmo e carinho. 

*Katia Flocke é psicóloga, com especialização em neurociência, fundadora da Associação Humanizar e expositora da Federação Espírita do Estado de São Paulo.